O poder da inteligência emocional na liderança
A importância da inteligência emocional na liderança
O psicólogo americano Daniel Goleman foi um dos primeiros autores a destacar o conceito de inteligência emocional no mundo corporativo. Mas afinal, o que é a inteligência emocional, porque é que desempenha um papel tão importante na liderança e como podemos desenvolver as nossas competências emocionais?
A inteligência emocional (IE) refere-se à capacidade de compreender e regular as próprias emoções, bem como de demonstrar empatia em relação às emoções dos outros. O ‘quociente emocional’ (QE) é avaliado com base em quatro componentes fundamentais: autoconsciência, autogestão, consciência social e gestão de relacionamentos.
Todos nós utilizamos a nossa inteligência emocional inata ao longo da vida — que influencia as interações sociais e molda as competências interpessoais. Algumas pessoas possuem, naturalmente, uma inteligência emocional elevada, enquanto outras necessitam de um esforço adicional para desenvolver a empatia e a compreensão das próprias emoções. A boa notícia é que é perfeitamente possível fortalecer estas competências, e mais adiante deixaremos algumas dicas sobre como o fazer.
A inteligência emocional e a liderança caminham lado a lado. Líderes empáticos criam dinâmicas de equipa mais fortes e têm maior capacidade de reter talentos. De facto, 92% dos colaboradores têm mais probabilidade de permanecer numa organização cujos líderes demonstram empatia. Além disso, ativar as competências de inteligência emocional traz benefícios financeiros, sendo que 87% dos CEOs concordam que o desempenho financeiro está diretamente ligado à empatia.
Porque é que a inteligência emocional é importante para líderes?
Ao pensar em competências tradicionais de liderança, é comum surgirem conceitos como a tomada de decisão rápida, a delegação eficiente, a boa comunicação, bem como a experiência técnica adaptada às funções e necessidades específicas do setor.
Contudo, Daniel Goleman considera estas competências técnicas como “pré-requisitos básicos” para funções de liderança. Segundo ele, a inteligência emocional é o verdadeiro factor diferenciador entre líderes bons e líderes medianos.
Várias pesquisas demonstram a forte ligação entre inteligência emocional e eficácia na liderança. Líderes com um elevado quociente emocional (QE) conseguem motivar as suas equipas, perceber as necessidades dos colaboradores e manter-se atentos aos sentimentos de todos, o que lhes permite responder adequadamente a diversas situações. Estes líderes têm mais sucesso do que aqueles com grande formação técnica, mas com baixa inteligência emocional. Embora a experiência técnica seja importante, sem inteligência emocional e sem um compromisso genuíno com a autoconsciência, os líderes terão dificuldade em exercer uma liderança efectiva. Poderão ser bons executores e gestores de projectos, mas a verdadeira liderança exige mais.
Então, como medir a inteligência emocional dos líderes da sua organização? O primeiro passo é compreender os quatro componentes fundamentais: autoconsciência, autogestão, consciência social e gestão de relacionamentos.
Os quatro componentes da inteligência emocional
Embora Daniel Goleman tenha popularizado a teoria da inteligência emocional, o conceito já vinha sendo discutido por psicólogos há décadas, com base na noção de “força emocional” proposta por Abraham Maslow nos anos 1950. Diversos modelos e métodos para medir a inteligência emocional e o quociente emocional foram testados nessas discussões iniciais, mas Goleman refinou o conceito em quatro componentes, frequentemente chamados de pilares.
Esses quatro componentes são:
1. Autoconsciência:
A autoconsciência é essencial para lidar com as complexidades do ambiente de trabalho moderno, onde é necessário equilibrar diversas necessidades e expectativas. Diz respeito à capacidade não só de reconhecer os nossos próprios pontos fortes e fracos, mas também de compreender as nossas emoções, motivações e reações em qualquer momento.
Dominar a autoconsciência pode ser um desafio: um estudo longitudinal publicado na Harvard Business Review revelou que, embora 95% das pessoas se considerem autoconscientes, apenas entre 10% a 15% o são realmente.
Para os líderes, alcançar este nível de autoconsciência é crucial. É fundamental que consigam confiar nos seus instintos e gerir as interações dentro da equipa, mantendo uma visão realista dos motivos que os levam a tomar determinadas decisões — e se têm, de facto, a capacidade de atingir os seus objetivos.
2. Autogestão:
A autogestão refere-se à regulação das emoções. Trata-se de uma competência adquirida, sendo os famosos “terríveis dois anos” da primeira infância uma etapa importante no desenvolvimento da regulação emocional, à medida que as crianças começam a reconhecer as suas emoções, a comunicar as suas necessidades e a lidar com os grandes sentimentos que experienciam.
A maioria dos adultos passou por essa fase e consegue, em maior ou menor grau, controlar as próprias emoções — embora alguns ainda enfrentem dificuldades. Ao analisar a inteligência emocional no contexto da liderança, é essencial garantir que os líderes saibam gerir as suas emoções em situações de elevado stress. Líderes com boa capacidade de autogestão conseguem manter uma atitude positiva mesmo perante contratempos difíceis e são capazes de continuar a motivar as pessoas à sua volta. Não desistem facilmente nem são propensos a explosões emocionais, conseguindo manter um ambiente de trabalho estável e confortável para todos.
Existem estratégias disponíveis para quem tem dificuldade com a autogestão. Exercícios de respiração, diálogo interno positivo e reenquadramento são métodos comprovados que ajudam a regular situações stressantes. É também fundamental que os líderes saibam identificar os seus gatilhos emocionais — fatores específicos que podem desestabilizar o seu autocontrolo — para que possam aplicar proativamente a estratégia mais adequada e adaptar-se a quaisquer mudanças que surjam.
3. Consciência Social
A consciência social é a capacidade de reconhecer e compreender as emoções dos outros e de lhes responder de forma adequada. Para os líderes, esta competência é essencial para construir relações positivas e promover um ambiente de trabalho acolhedor.
Os líderes podem desenvolver a consciência social através da prática da empatia. Por exemplo, quando um colaborador aborda um líder com um problema, em vez de pensar de imediato no impacto que isso poderá ter sobre si próprio, o líder deve focar-se em como o colaborador se sente em relação à situação. Ao ouvir com atenção e oferecer orientação sem julgamentos, demonstra que valoriza a perspetiva do outro.
Ao dar este exemplo empático, os líderes com inteligência emocional fortalecem não só a sua relação com cada membro da equipa, mas também fomentam a colaboração entre todos. Bons líderes inspiram os outros a replicar este tipo de relacionamento, sendo a empatia um elemento-chave nesse processo. De facto, 9 em cada 10 colaboradores acreditam que a empatia é essencial para uma cultura organizacional saudável.
4. Gestão de Relacionamento
Tal como acontece com o desenvolvimento da inteligência emocional e das competências de liderança, os relacionamentos também exigem esforço. A gestão de relacionamentos, para os líderes, implica motivar a equipa, estabelecer ligações individuais com cada colaborador e compreender a delicada dinâmica da equipa que lideram. Pode igualmente envolver a gestão de conflitos.
Líderes com inteligência emocional reconhecem que os conflitos são inevitáveis, mas sabem que o mais importante é a forma como se lidam com eles. É impossível criar um ambiente completamente livre de conflitos; até pequenas divergências, como a temperatura do ar condicionado ou de quem é a vez de ir buscar o café, podem escalar. Por isso, líderes eficazes desenvolvem competências sólidas de resolução de conflitos. Promovem uma comunicação aberta e honesta, constroem relações de confiança com a equipa e criam um ambiente de segurança psicológica, onde os conflitos construtivos podem ocorrer de forma produtiva e com o menor impacto possível.
Por vezes, é necessário ter conversas difíceis, e líderes emocionalmente inteligentes estão preparados para isso, graças às suas competências de gestão de relacionamentos.
Como identificar a falta de inteligência emocional na liderança
Existem sinais que podem indicar que um líder tem défices ao nível da inteligência emocional. Inquéritos realizados aos colaboradores podem revelar níveis elevados de insatisfação com a liderança, a taxa de rotatividade pode ter aumentado desde que essa pessoa assumiu funções de chefia e os níveis de envolvimento da equipa podem ter diminuído.
Líderes com um QE (quociente emocional) mais baixo tendem a ter dificuldades de comunicação, o que pode levar a mal-entendidos, mágoa provocada pela forma como se expressam ou a um aumento dos conflitos. Ao analisar os quatro pilares da inteligência emocional e a sua relação com a liderança, começa-se a perceber alguns dos erros mais comuns cometidos por líderes com baixa inteligência emocional: tendem a sobrestimar a sua autoconsciência e podem ser propensos a explosões emocionais. As suas tentativas de motivar a equipa falham, muitas vezes por falta de consciência social, e podem surgir sinais de que a própria equipa está a tentar “influenciar positivamente”, ou seja, a adaptar-se ao líder para minimizar impactos negativos.
As consequências de manter líderes nestas condições — a curto e a longo prazo — podem ser devastadoras, mesmo para organizações anteriormente bem-sucedidas, à medida que o envolvimento das equipas se reduz e os colaboradores procuram culturas organizacionais mais empáticas. É vital reconhecer os sinais de uma liderança com défices de inteligência emocional, mas também é importante saber que nem tudo está perdido. É perfeitamente possível desenvolver e fortalecer estas competências emocionais — e vamos explicar como.
Como fortalecer a sua inteligência emocional como líder
Eis algumas estratégias que pode adoptar para fortalecer a sua inteligência emocional enquanto líder:
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Ouça com atenção e evite julgamentos – Pratique a escuta ativa para compreender verdadeiramente as perspetivas dos colaboradores, evitando tirar conclusões precipitadas ou fazer julgamentos apressados;
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Crie ligações pessoais com os colaboradores – Construa relações de confiança através de interacções genuínas, mostrando interesse pela vida e paixões dos membros da equipa fora do contexto profissional. Valorize-os como pessoas completas, e não apenas como recursos de trabalho;
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Descubra o que motiva cada colaborador – Procure compreender o que inspira cada membro da equipa a dar o seu melhor. Lembre-se de que motivações variam de pessoa para pessoa, por isso é essencial adaptar a abordagem a cada um;
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Procure compreender melhor os outros e a si próprio – Desenvolva a autoconsciência através de reflexão pessoal e feedback. Seja realista quanto aos seus pontos fortes e áreas de melhoria, valorizando as opiniões externas. O feedback 360 graus é uma ferramenta eficaz para esse desenvolvimento;
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Pratique a regulação emocional – Utilize técnicas para gerir o stress e manter a calma sob pressão. Exercícios de respiração são úteis para momentos de tensão imediata, enquanto a escrita num diário pode ajudar no bem-estar emocional a longo prazo e no processamento de emoções mais profundas.
Como a inteligência emocional pode tornar os líderes mais eficazes
Há muitos benefícios ao investir em inteligência emocional e liderança, incluindo:
Melhoria da satisfação no trabalho
Líderes empáticos têm uma forte capacidade de fazer com que os seus colaboradores se sintam valorizados pelas suas contribuições. Quando os colaboradores se sentem reconhecidos desta forma, tendem a estar mais satisfeitos com a sua vida profissional no geral e demonstram maior probabilidade de permanecer nos seus cargos. Taxas mais elevadas de retenção são uma vantagem significativa para qualquer organização nos dias de hoje, especialmente tendo em conta que os custos associados ao recrutamento podem ascender a quase três vezes o salário inicial de um colaborador.
Melhor comunicação
Quando líderes e membros da equipa desenvolvem verdadeiramente as suas competências de comunicação e alcançam um entendimento mútuo real, conseguem colaborar de forma mais eficaz, o que beneficia a produtividade global. Uma comunicação mais clara e eficaz também reduz a probabilidade de mal-entendidos, o que significa que os líderes terão de recorrer com menos frequência às suas competências de resolução de conflitos.
Maior desempenho e produtividade
A inteligência emocional aliada à liderança constitui uma combinação poderosa para melhorar o desempenho e a produtividade. Equipas lideradas por líderes emocionalmente inteligentes tendem a estar mais envolvidas e motivadas. Quando os colaboradores se sentem valorizados e ouvidos, envolvem-se mais com o seu trabalho e sentem-se motivados a superarem-se, contribuindo para o sucesso da organização — um sucesso pelo qual se sentirão reconhecidos e recompensados.
Menos conflitos no local de trabalho
Com uma consciência social apurada e boas competências de gestão de relacionamentos, líderes com elevado QE (quociente emocional) conseguem identificar e resolver conflitos antes que estes se agravem. Sabem reconhecer os sinais e agir a tempo, mantendo um ambiente de trabalho calmo, positivo e produtivo para toda a equipa. Estes líderes também conhecem bem os factores de stress que podem desencadear conflitos ou burnout e sabem orientar as suas equipas com uma abordagem equilibrada e construtiva.
Considerações finais: O poder da inteligência emocional na liderança
A inteligência emocional na liderança pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma organização. Embora a expertise técnica e o conhecimento do sector sejam fundamentais, líderes que carecem de inteligência emocional — incluindo competências como autoconsciência, empatia e gestão de relacionamentos — podem enfrentar desafios como baixa retenção de colaboradores, baixo engagement da equipa e produtividade estagnada.
Mas há boas notícias: a inteligência emocional não é algo fixo. Gestores de RH e líderes empresariais podem causar um impacto significativo ao priorizarem o desenvolvimento do QE nas suas equipas de liderança. Talvez já tenha identificado sinais de líderes carentes de inteligência emocional na sua organização, seja por uma comunicação deficiente, equipas disfuncionais ou uma taxa elevada de rotatividade, e agora é hora de agir.
Comece avaliando a inteligência emocional atual dos seus líderes com o Questionário de Inteligência Emocional da Thomas (TEIQue). Esta poderosa ferramenta avalia 15 traços emocionais e oferece um relatório abrangente dos pontos fortes e das áreas de melhoria de um líder. Com esses dados, podemos ajudá-lo a criar programas de formação e desenvolvimento direcionados que fortalecerão a inteligência emocional em toda a sua equipa de liderança.
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